Em 1845, em Santa Catarina, a construção civil refletia as transformações sociais e econômicas em curso no Brasil. A mão de obra utilizada nas construções variava conforme o tipo de empreendimento e a região, mas destacava-se a crescente presença de imigrantes europeus, especialmente nas áreas colonizadas.
A imigração europeia foi incentivada pelo governo imperial como parte de uma estratégia de povoamento e desenvolvimento econômico da região sul, particularmente nas províncias de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A chegada de imigrantes, principalmente alemães e italianos, marcou profundamente a paisagem e a infraestrutura das áreas urbanas e rurais. Embora esses imigrantes fossem, em sua maioria, direcionados para a agricultura, muitos também desempenharam papel fundamental na construção de estradas, pontes, edifícios públicos e casas.
A influência europeia nas técnicas de construção e nos estilos arquitetônicos logo se refletiu nas cidades em crescimento, contribuindo para a diversificação das práticas construtivas em Santa Catarina.
Em Florianópolis, a presença dos açorianos, que haviam chegado no século XVIII, foi determinante na formação das regiões mais antigas da cidade. Um exemplo icônico desse legado açoriano é a pavimentação de ruas com pedras do tipo "pé de moleque", uma técnica herdada da cultura portuguesa.
A primeira rua calçada de Florianópolis, situada em Santo Antônio de Lisboa, foi construída com esse tipo de pavimentação em 1845, em preparação para a visita de Dom Pedro II. A estrutura robusta e característica dessa técnica de calçamento, que lembra o doce brasileiro "pé de moleque", tornou-se um marco da arquitetura local, ainda visível hoje em regiões históricas da cidade.
Os açorianos não só pavimentaram ruas, mas também contribuíram para o desenvolvimento da arquitetura de Florianópolis, como é evidente em Santo Antônio de Lisboa e na Freguesia do Ribeirão, no sul da Ilha.
Nesses locais, as casas preservam o estilo arquitetônico tradicional português, com construções simples, paredes grossas, janelas com molduras de madeira e telhados de cerâmica. Essas áreas mantêm até hoje um forte vínculo com a herança açoriana, com ruas estreitas e calçadas de pedras que remetem à época colonial.
Além de Florianópolis, São Francisco do Sul, a cidade mais antiga de Santa Catarina, também preserva a herança açoriana em suas construções. Fundada em 1504 e colonizada pelos açorianos, a cidade tem uma arquitetura que lembra as vilas da Ilha dos Açores e de Portugal.
As casas e igrejas coloniais que ainda podem ser vistas ali são um testemunho vivo da presença açoriana, e os métodos de construção utilizados foram transmitidos de geração em geração, mantendo a tradição e a história dessas primeiras comunidades imigrantes.
A mão de obra de imigrantes em Santa Catarina, especialmente açorianos, alemães e italianos, desempenhou um papel essencial na construção de infraestruturas que moldaram as cidades e as regiões rurais.
Combinada à mão de obra escravizada e ao trabalho de artesãos livres, essa força de trabalho ajudou a desenvolver o estado, deixando um legado arquitetônico e cultural ainda visível nas paisagens catarinenses.
Por jornalista Márcio Batista
Foto: (Correios) Reprodução / Divulgação
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