Coronavírus: precaução, sim; histeria, não! - Mais News

Coronavírus: precaução, sim; histeria, não!


Hoje, o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, afirmou sobre a reação histérica ao coronavírus: “Pandemia é [apenas] o termo usado em referência a um aumento de casos de uma doença em uma ampla área geográfica. Não podemos deixar isso se transformar em histeria e desespero!”. O presidente da República, por sua vez, ressaltou: “O caos só interessa aos que querem o pior para o Brasil”. Disse Mandetta ainda: “Calma, serenidade, prevenção e ações eficazes são as armas para superarmos o coronavírus”.

Todos devemos fazer a nossa parte, nos cuidarmos e termos cuidado com o nosso próximo, e isso inclui não cair em histeria. Histeria não ajuda, só atrapalha.

As pessoas se concentram no fato de já termos mais de 200 mil infectados no mundo e mais de 8 mil mortos, quando nossas atenções devem estar focadas na prevenção, e não nesses números. Aliás, esses próprios números, se corretamente analisados, já diminuiriam essa histeria. Se não, vejamos.

Em primeiro lugar, não se pode determinar com precisão a taxa de letalidade de nenhuma epidemia olhando apenas para o número de casos registrados de contaminação e o número de óbitos. Esses dados não são determinativos, porque, diferentemente do que acontece com os dados sobre o número de mortos, todos os dados sobre o número de infectados sempre estarão defasados em relação à realidade, uma vez que (1) demora para você comprovar uma suspeita como caso de contaminação e (2) muita gente que está contaminada sequer vai a hospital, posto que em 90% dos casos de contaminação a pessoa quase não sente os sintomas ou, no máximo, acha apenas que é um pequeno resfriado.

Ou seja, se você tem 204 mil casos de contaminação confirmados, pode ter certeza que o número real é muito maior, enquanto o número de mortos, ao contrário, é bem real, porque toda pessoa que veio a óbito em um hospital teve o motivo de seu falecimento atestado. Por isso, quando termina uma epidemia, a taxa de letalidade ao final dela – comparando o número de contaminados registrados com o número de mortos entre eles – é sempre menor do que nos primeiros meses. E mesmo esse número final também é irreal, porque, como já disse, muita gente sequer vai ao médico para ser diagnosticada.

Quando o H1N1 começou, a taxa de letalidade era alta, mas depois terminou sendo de... 0,03%. Será que essa será a taxa de letalidade final do atual coronavírus? Não sabemos, só podemos dizer – com base nos exemplos de epidemias anteriores – que, com certeza, ao final, a taxa de letalidade deve ser menor do que é atualmente.

Lembrando que, apesar de a gripe matar absurdamente mais que o coronavírus, a taxa de letalidade da gripe é bem menor do que a do coronavírus (3,5% contra 0,08% no máximo), porque os cálculos da gripe incluem um número pressuposto de infectados que não foram ao médico. Em muitos cálculos, chega-se a presumir que apenas 5% das pessoas que tenham contraído gripe vão ao hospital. Por isso, tivemos 650 mil mortes no mundo por gripe em 2018, mas a taxa de letalidade não chegou a 1%.

Logo, quando o cálculo final for feito após o fim da epidemia do coronavírus, a taxa de letalidade deste deverá ser muito menor do que os 3,5% propalados hoje pela mídia (mesmo sendo provavelmente menor o número pressuposto de pessoas que não foram ao hospital no caso do coronavírus, devido à intensa campanha midiática sobre o assunto).

Em segundo lugar, se olharmos bem os dados atuais, veremos que os 4 únicos países onde a taxa de letalidade por número de casos registrados é acima de 3% são os 4 países com maior número de infectados e mortos de todos. São eles:

CHINA
81.102 casos registrados
3.241 mortos
Taxa de letalidade: 4%

ITÁLIA
31.506 casos registrados
2.503 mortos
Taxa de letalidade: 8%

IRÃ
17.361 casos registrados
1.135 mortos
Taxa de letalidade: 6,5%

ESPANHA
13.910 casos registrados
623 mortos
Taxa de letalidade: 4,5%

Pois bem, esses 4 países detêm 70% do número total de casos registrados e MAIS DE 90% do número de mortes por coronavírus. Lembrando que são mais de 100 países no mundo com gente contaminada pelo coronavírus. A média da taxa de letalidade na soma desse grupo (esses 4 países) dá 5,75%. A dos outros países do mundo, somados, dá cerca de 1,4%.

Agora vejamos os casos dos 6 países seguintes da lista:

ALEMANHA
10.082 casos registrados
27 mortos
Taxa: 0,25%

COREIA DO SUL
8.413 casos registrados
84 mortos
Taxa: 0,99%

FRANÇA
7.661 casos registrados
148 mortos
Taxa: 1,9%

ESTADOS UNIDOS
6.519 casos registrados
115 mortos
Taxa: 1,8%

SUÍÇA
3.208 casos registrados
28 mortos
Taxa: 0,9%

REINO UNIDO
2.642 casos registrados
72 mortos
1,4%

O que isso significa?

Significa que a nossa referência não deve ser nem os 8% da Itália, nem os 4% da China, nem os 6,5% do Irã, nem os 4,5% da Espanha, nem a média geral de 3,5%, mas o que os outros países com taxas muito menores fizeram – e o que devemos fazer, portanto – para minimizar o número de contaminados e de eventuais vítimas fatais.

Logo, a histeria – que é alimentada justamente por um olhar não-analítico sobre esses números e pelo foco apenas nos casos de morte e no caos gerado pela própria histeria – não ajuda em nada. Histeria leva a medidas radicais, a caos, a gente demais indo aos hospitais desnecessariamente, a acabar produtos essenciais no mercado por causa de gente que compra em grande quantidade para fazer um estoque absurdo em casa etc.

O problema da histeria não é o excesso de informação, mas o tipo de informação. Nunca é demais informar como se precaver. E detalhe: ninguém da grande imprensa traz depoimentos de pessoas que foram contaminadas e estão passando bem. O negócio é só numero de mortos e contaminados, e muita histeria.

Se está em 8% na Itália ou 3,5% no mundo, não significa que será assim aqui ou em todos os lugares. Em mais de 100 países onde há pessoas contaminadas pelo vírus, apenas 4 têm uma média acima de 3%. Os demais têm, somados, uma média de quase 1,4% – e muitos deles têm individualmente muito menos do que isso. Lembrando ainda que no Hemisfério Norte é onde está a população mais idosa do mundo e que está vivendo ainda o inverno, onde o vírus é mais forte, daí o número alto de mortes. Aqui estamos saindo do verão ainda – e na maior parte do nosso país temos sol o ano todo. Somos o quarto país do mundo em quantidade de leitos por 100 mil habitantes, atrás apenas de EUA, Alemanha e Japão, e o governo brasileiro ainda está aumentando a quantidade de leitos em mais 2 mil. Temos tudo isso a nosso favor. É só fazermos a nossa parte!

Se a Itália, a China, o Irã e a Espanha não fizeram o seu dever de casa, eles ficam para nós apenas como exemplos do que não devemos fazer, e não como paradigmas do que supostamente acontecerá aqui. A maioria dos países fez e está fazendo o seu dever de casa, inclusive o Brasil.

Precaução, sim. Histeria, não.

Por Pr Silas Daniel
Fonte: CPAD News
Foto: Wrdw

Silas Daniel é pastor, jornalista, chefe de Jornalismo da CPAD e escritor. Autor dos livros “Reflexão sobre a alma e o tempo”, “Habacuque – a vitória da fé em meio ao caos”, “História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil”, “Como vencer a frustração espiritual” e “A Sedução das Novas Teologias”, todos títulos da CPAD, tendo este último conquistado o Prêmio Areté da Associação de Editores Cristãos (Asec) como Melhor Obra de Apologética Cristã no Brasil em 2008.




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