A morte de Sócrates e a crucificação de Jesus Cristo - Mais News

A morte de Sócrates e a crucificação de Jesus Cristo


Da série: E Jesus Cristo, existiu mesmo? 

Inicialmente, desculpo-me pela simplicidade com que as ideias serão expostas. Falar das mortes de Sócrates e Jesus Cristo em poucas linhas requer uma habilidade de síntese que ainda busco.
Pois bem. A Grécia há muito tempo é conhecida pela sua produção intelectual. Heródoto, historiador grego, conta que os séculos V e IV a.C. foram o apogeu do desenvolvimento político, econômico e cultural de Atenas. Refere-se ao período como o século de ouro do governante Péricles, no qual houve grande incentivo às produções artísticas, literárias, históricas e filosóficas (i).

Nesse contexto de investimento intelectual nasce um tal Sócrates, em 470 ou 469 a.C., filho de escultor e de parteira, era de origem humilde, tendo inicialmente desempenhado o ofício do pai e participado das batalhas de Potidéa, Delion e de Anfípolis (ii).

Tendo em mente a Noocracia, que significava o governo dos sábios, Sócrates passou a ser odiado pela plebe naturalmente excluída das suas ideias de governo.

Sócrates teria recebido uma mensagem do oráculo de Delfos afirmando que seria o mais sábio dos homens. A partir disso, passou a questionar a todos quanto se julgavam sábios, a fim de afirmar a sua sabedoria. Os jovens que o acompanhavam replicavam os questionamentos, o que aumentava o repúdio ao ateniense.

O julgamento de Sócrates, então, foi muito mais uma expressão de rancor, orgulho e ressentimento do que uma apuração de violação às leis da Cidade. Era necessário silenciá-lo a qualquer custo, a acusação pouco importava.

Franco Massara relata que a acusação imputada a Sócrates por Meleto era nos seguintes termos:
Esta é a acusação feita sob juramento por Meleto, filho de Meleto, do demo de Pittos, contra Sócrates, filho de Sofronisco, do demo de Alopech: Meleto acusa Sócrates de não acreditar nos deuses em que a cidade crê e de introduzir novas divindades demoníacas; acusa-o também de corromper os jovens. Pena pedida: a morte (iii). 
No seu julgamento, Sócrates preocupou-se mais em reafirmar as suas convicções do que em efetivamente defender-se, embora houvesse bons argumentos defensivos.

Exatamente dessa forma Sócrates termina a sua defesa. Sem apresentar testemunhas, sem clamar pela sua absolvição, esquecendo-se da sua posição de réu para assumir a de filósofo, ensinando o povo e os juízes.

A morte de Sócrates é narrada pelos seus discípulos de maneira gloriosa. A imagem pintada mostra Sócrates ensinando, com vários seguidores em volta, erguendo, com bravura, a taça de vinho que continha o veneno da sua condenação.

Agora analisemos a morte de Jesus Cristo. A popularidade da ascensão e vida de Jesus Cristo permite a omissão dos detalhes. A acusação que pesava contra si pode ser assim resumida: “Encontramos este homem subvertendo a nossa nação. Ele proíbe o pagamento de impostos a César e se declara ele próprio o Cristo, um rei.” (Lucas 23.1)

A morte de Jesus Cristo é narrada como um momento de sofrimento, de agonia: “Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, ali o crucificaram com os criminosos (...)”; “Os soldados, aproximando-se, também zombavam dele.”

A morte de cruz era a mais vergonhosa; Jesus não cultuou a si perante a multidão; houve discípulo que o traiu; outro o negou; enfim, a pintura da morte de Jesus é bastante diferente da de Sócrates.
Qual história você julgaria verdadeira?

A morte de um é narrada com glória, a do outro, com sofrimento. Sendo assim, se quiséssemos criar uma figura história, como seria a narrativa da sua morte? Contaríamos a morte do nosso Deus com sofrimento, traição, escárnio, ou de maneira gloriosa?

Por Reinaldo Denis
Fontes: (i) CATILINA, Lúcio Sérgio. Os Grandes Julgamentos da História: Sócrates. Otto Pierre Editores LTDA : São Paulo.  , ...p. 38. (ii) MARINHO, Inezil Penna. Grandes julgamentos da Grécia Antiga: Aspásia, Sócrates, Frinéia. Organização judiciária de Atenas e noções de direito processual ateniense. Brasília. Belo Horizonte, 1978.  p. 71. (iii) Grandes Julgamentos...p. 25.
Foto: What Archaeology Is Telling Us About the Real Jesus | National Geographic


Sobre o autor: Reinaldo Denis é integrante do Ministério de Louvor na Mais de Cristo, foi Oficial do Exército Brasileiro e hoje é Advogado. Possui pós-graduação em Direito Penal e é mestrando em Direito na UFSC. É autor de artigos publicados em revistas científicas de Direito. Casado com Francis Demétrio.


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